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Muito se fala sobre o amor em diversos âmbitos de nossas vidas. Seja o amor de amigo, amor de pai, mãe, cônjuge, animais de estimação e muitos outros. Entendemos que no amor não existe uma definição única e uma limitação, e essa liberdade é fortemente expressa no amor incondicional.
Diferentemente do chamado amor condicional, que consiste em um sentimento de dependência e apego em relação a alguém, e leva em consideração julgamentos e expectativas demasiadas, o amor incondicional é generoso, infinito e altruísta.
É um amor que transcende o “certo” e o “errado”, ou seja, não existem pré-julgamentos e conflitos. Consequentemente, ele não impõe condições ou limites para acontecer. Quem ama incondicionalmente não depende de uma troca para ser completo.
É muito comum as pessoas esperarem atitudes, palavras e gestos de outras pessoas para, dessa forma, considerarem amor por elas. No amor incondicional, essa espera não existe e o ser ama sem precedentes.
Ama-se o outro como ele é, com absoluta clareza sobre todas as nuances de sua personalidade. Ama-se sem pressa. Aceita-se a pessoa em toda a sua inteireza, incluindo fraquezas, defeitos e limitações, sem que, para isso, seja preciso destruir a própria autoestima. Aliás, em qualquer tipo de amor, só se ama genuinamente quem é capaz de se amar.
“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar”, escreveu o poeta português Fernando Pessoa. Essas palavras sintetizam um pouco do que cada um de nós sente quando se fala em amor incondicional: o amor na sua essência, um sentimento puro e sem apego.
Encontramos mais elementos sobre o tema nos versos de Pablo Neruda: “Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde. Amo-te amo diretamente sem problemas nem orgulho”. O poeta chileno nos faz refletir sobre um amor sem julgamentos, sem expectativas. Ele fala do amor romântico, mas um sentimento com essas características pode permear também outros tipos de relacionamento, como entre pais e filhos, amigos ou até na relação com um animal de estimação.
Apesar disso, amar incondicionalmente não significa anular o amor próprio, colocando a felicidade do outro como prioridade e acima da sua. O amor incondicional ama o outro ao ponto de desejar-lhe o melhor do mesmo jeito que deseja para si mesmo, sem esperar nada em troca.
Podemos dizer que praticamente todos os relacionamentos passam por uma fase de amor incondicional, que geralmente ocorre no início. Não importa se o seu novo companheiro ou o seu novo amigo, por exemplo, tem defeitos, você só pensa em estar perto dele, mesmo que algumas atitudes lhe incomodem. Por isso está muito relacionado ao termo amor verdadeiro.
Comumente, em algum momento, esse amor sem precedentes cessa, e todos esses pontos negativos começam a aflorar e interferir de certa forma no relacionamento. É por conta disso que quando falamos sobre amor incondicional, uma das primeiras relações é com o amor existente entre a mãe e seu filho, pois trata-se de um sentimento puro e desinteressado. A mãe quer apenas o bem do filho, independente de como.
Isso não significa que não seja possível amar incondicionalmente outras pessoas, como cônjuges, amigos, familiares etc., porém, geralmente essas relações estão mais propensas a depender da retribuição e reciprocidade.
A ágape e o amor incondicional
Para moldar a concepção de amor incondicional, o pensamento ocidental percorreu uma trajetória que começa na Grécia Antiga. Amor incondicional deriva de ágape, um dos Sete tipos de amor definidos pelos filósofos gregos. Ágape é o amor que permite ao ser humano sentir-se parte da humanidade, da vida; é também o amor de Deus para com todos os seres.
É um sentimento capaz de criar em nós a consciência de que todos somos parte de algo maior, de um todo. É caracterizado por um amor universal e incondicional que se tem em relação a todos os seres humanos, que desperta a bondade e inspira os benevolentes, os voluntários, os altruístas.
Genericamente, a psicologia relaciona ágape ao amor pela natureza e pela humanidade. Sugere um amor generoso, desprovido de paixões cegas, efêmeras ou de interesses pessoais, um amor que independe do que se recebe de volta. Todas essas ideias inspiraram o entendimento que temos hoje sobre o amor incondicional, por mais subjetivo que ele seja. E é nelas que buscamos recursos para evitar comparações equivocadas entre amor incondicional, amor tóxico ou paixão.
Sendo assim, o amor incondicional é sinônimo de:
É preciso ressaltar que, apesar de não se amar incondicionalmente em algumas relações, isso não significa que não haja amor de verdade nelas. A diferença é como esse amor se comporta e transforma as relações.
Vale destacar ainda que, incondicional ou não, o amor não é uma escolha, mas um sentimento que flui do coração. Não podemos escolhê-lo, mas podemos criar condições para que ele se desenvolva. E o autoconhecimento é o primeiro passo para isso.
Autor
Clelia Queiroz Gadelha