O que é espiritualidade?

Autor

Clelia Queiroz Gadelha

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O que é espiritualidade?

Em situações-limite como a que estamos vivendo no enfrentamento da covid-19, reflexões sobre a vida e o universo invadem nossos corações.

Me pego pensando se esse não seria um convite da alma para meditarmos sobre as grandes questões da humanidade: quem verdadeiramente somos, o que fazemos aqui, qual nosso propósito?

Aceitar esse desafio filosófico pode nos levar a um mergulho deslumbrante no mundo da espiritualidade. A busca pessoal de respostas para indagações como essas está diretamente ligada ao conceito de espiritualidade, segundo o psiquiatra americano Harol G. Koenig, que discorreu sobre o tema em várias publicações. Para ele, além dessa procura, a definição engloba ainda a forma como cada um se relaciona com o transcendente ou sagrado.

Muita gente ainda confunde espiritualidade com religião ou religiosidade. Nesse texto, me aventuro a discorrer sobre as sutilezas que diferenciam esses conceitos, levando em conta a opinião relevante de quem se dedica a estudá-lo.

Na avaliação da médica Christina Puchalski, diretora do Institute for Spirituality and Health, vinculado à Universidade George Washington, a espiritualidade está relacionada à forma como as pessoas buscam e expressam significado e propósito e à maneira como experimentam sua conexão com o momento, consigo mesmas, com os outros, com a natureza ou com o sagrado. De acordo com os pesquisadores e autores do livro The Spiritual Brain, Mario Beauregard e Denyse O’Leary, espiritualidade significa qualquer experiência, mesmo as mais comuns, de contato com o divino. Já, para as enfermeiras americanas, também estudiosas do assunto, Ruth Beckmann Murray e Judith Proctor Zenter, nós estamos na dimensão da espiritualidade quando tentamos estar em harmonia com o universo, buscando respostas sobre o infinito.

Depois de estudos, leituras e conversas sobre o tema, eu concluí que cada um tem dentro de si uma definição do que é espiritualidade, cada um lida com a espiritualidade de uma forma. Eu a vejo como um caminho para encontrar minha própria essência, uma oportunidade de olhar para mim mesma, de identificar, de me conectar com o espírito e compreender as coisas que realmente são importantes para mim. Acho que espiritualidade também pode ser entendida como a prática da gratidão, da compaixão, a disposição ao perdão, o respeito à natureza.

A ideia de espiritualidade é mais ampla e pode, inclusive, abranger a concepção de religião. Você pode alcançar a espiritualidade por meio de uma religião: respeitando os preceitos e ensinamentos de uma figura histórica ou arquetípica, frequentando igrejas ou templos, participando de missas, cultos, reuniões, seguindo padres, pastores ou outros guias espirituais. Mas você também pode vivenciá-la meditando, se autodescobrindo, contemplando, praticando yoga, experimentando terapias e técnicas de medicina complementar, ouvindo diretamente o chamado do seu espírito interno, buscando encontrar o divino por seus próprios meios.

Há dois entendimentos sobre de qual verbo do latim deriva a palavra religião, que existe desde o século XIII. O mais tradicional indica que ela descende de relegere, que significa “revisitar, retomar o que tinha sido abandonado” e sugere uma retomada da dimensão espiritual. Outra corrente defende que ela vem de religare, que quer dizer “religar, atar” e remete a ideia de estreitar os laços entre a humanidade e a esfera divina.

As duas interpretações nos ajudam a entender o conceito da palavra. O psiquiatra Koenig, sobre o qual falamos acima, define religião como um sistema organizado de símbolos, rituais, crenças e práticas elaborados para facilitar a aproximação do indivíduo com o sagrado ou transcendente. As religiões têm estruturas hierarquizadas. Possuem dogmas, doutrinas e códigos para orientar o comportamento de seus membros. Elas tiveram papel importante na história da civilização humana já que suas regras e códigos ajudaram a moldar a sociedade como temos hoje. Suas práticas passaram de geração em geração, ensinando o ser humano a como se conectar com o divino e formando comunidades.

Diferentemente da religião, na espiritualidade há uma mentalidade mais flexível e adaptável aos ensinamentos culturais, conhecimentos tradicionais e que está aberta a mudanças de comportamento e interpretações sobre o mundo na medida que a pessoa avança no seu próprio processo evolutivo. Diz-se que toda religião está ligada à espiritualidade, mas nem toda espiritualidade está ligada à religião.

Quando se discute esses dois conceitos é preciso salientar que não há certo ou errado. Há religiosos que são absolutamente espiritualizados. Há outros que não. Há quem não tenha uma crença, não siga dogmas, mas é muitíssimo espiritualizado. Como você se conecta ao sagrado, ao divino, ao transcendente, é uma escolha íntima sua que deve ser respeitada.

Desde 1998, a Organização Mundial da Saúde considera que a espiritualidade, envolvendo religiosidade ou não, deve ser levada em conta na avaliação e promoção de saúde em todas as idades. Ainda não se tem clareza sobre como ela age no organismo, mas já existem pesquisas que provam os seus benefícios para o corpo físico.

Um estudo da Universidade de Santo Amaro, de 2018, revelou que pessoas com disponibilidade de perdoar sofrem menos de doenças coronárias do que aquelas que tem dificuldade de conceder perdão. A pesquisa envolveu um grupo de 130 pessoas, metade delas com doenças no coração e metade sem. Num artigo divulgado no site própria universidade, a psicóloga Suzana Avezum, autora do trabalho científico, explicou: “Mais espiritualidade pressupõe empatia e uma visão mais positiva da vida”. Segundo ela, já há pesquisas que mostram que guardar mágoas, cultivar pensamentos negativos e ressentimentos também têm efeito negativo na saúde das pessoas.

A prova da importância da espiritualidade na saúde e bem-estar é o fato de que universidades importantes do país e de fora dele possuem núcleos de pesquisa específicos para o tema. O Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (ProSER) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo é um exemplo. Numa publicação no portal do programa, de 2014, o psiquiatra Frederico Camelo Leão disse ser importante compreender a relação entre saúde, espiritualidade e religiosidade porque, segundo ele, a complexidade humana e a saúde mental vão além das questões neuroquímicas.

Ciente da importância da espiritualidade na totalidade do nosso ser, eu concebi o ‘Estilo de Vida Soham’ que dá a ênfase devida à espiritualidade. Para tanto, desenvolvi uma metodologia, em conjunto com médicos, terapeutas e outros profissionais de saúde, o Método TAC – Tríade da Auto Cura, cujo objetivo é equilibrar e harmonizar corpo, mente e emoções por meio de uma abordagem multidisciplinar para atingir a espiritualidade plena.
Você encontra mais detalhes sobre esse e outros assuntos no Portal Soham. Venha conferir!

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Clelia Queiroz Gadelha

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