Artigos
Neste artigo vou falar sobre ser MULHER na essência, sobre nossa feminilidade ‘proibida’ pela história, sobre a sexualidade velada e não permitida. Sobre prazer legítimo e empoderamento feminino.
Quando faço essa afirmação sobre a importância de nos assumirmos MULHERES, não me refiro somente aos nossos papéis de mãe, filha, irmã, amiga, namorada, esposa, dona de casa e profissional. É claro que todas essas posições fazem parte da vivência da mulher, mas esses são os papéis que fomos ensinadas a desempenhar ao longo da vida.
Desde crianças somos instruídas em aspectos específicos: no físico (alimentação, atividades físicas), no mental (escola, aulas, cursos), no emocional (fazemos psicoterapia quando estamos em crise) e no espiritual (quando a família segue alguma religião ou crença). Porém, muito pouco – ou quase nada – tem se falado sobre a sexualidade feminina. E é aí que começa nosso enrosco emocional e comportamental.
Como mãe, acompanhei toda fase escolar do meu filho recebendo aulas sobre reprodução sexual e algumas poucas dicas como conduzir a sexualidade na adolescência. Pude observar muitas mães preocupadas com o aflorar da sexualidade em suas filhas, sempre pensando na prevenção de gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis.
Vi muitas mães e pais cerceando suas filhas com ações do tipo ‘horários para chegar em casa’, ‘uso de roupas não adequadas’, ‘críticas às posturas das meninas’ – um verdadeiro movimento de opressão ao feminino, uma vez que as mesmas regras nunca foram as mesmas para os meninos.
Eu sentia naquele comportamento o medo dos pais por trás dessas colocações às suas filhas. Diferente da postura dos pais com relação aos filhos homens, criados com maior liberdade, apesar das preocupações sobre gravidez e DSTs.
Ainda nos dias de hoje ouço conversas entre homens – meninos, adolescentes e adultos – sobre a diferenciação entre ‘menina de família’ e puta. E, afinal, o que eles chamam de puta? Aquela mulher que está cobrando dinheiro ou favores pelo sexo? Sim, essa também, mas eles se referem às meninas/mulheres ‘fáceis’ – aquelas que têm vários parceiros sexuais, aquelas que sentem prazer no sexo, aquelas que falam sobre seu desejo e sua curiosidade por experimentar e explorar sua sexualidade.
Pois é! Eu me pergunto por que será que nós não somos autorizadas a sermos MULHERES e vivenciarmos a nossa sexualidade livremente. Por que não somos ensinadas e autorizadas a sentir e a vivenciar o prazer?
Após muita reflexão e uma análise na história, penso que o sistema familiar, a sociedade e as religiões se sentem ameaçados pelo empoderamento feminino, o famoso medo de perder o controle. E é assim que nos tornamos prisioneiras dessas crenças.
E na realidade, tanto nós mulheres quanto os homens estamos pagando o preço dessa anulação. Nos casamos com homens que acreditamos ser os ‘príncipes encantados’, mas logo descobrimos que esses personagens não existem. E acabamos por abafar nossa sexualidade, pois, infelizmente, a mulher que usa e abusa de sua sensualidade ainda fica sob julgamento, principalmente dentro do casamento.
Os homens, por sua vez, sofrem esse peso da expectativa feminina com relação ao príncipe encantado, se sentem frustrados e muitas vezes acabam entrando em relacionamentos paralelos para cobrir a sua frustração. E muitas vezes a mulher terá que lidar com o fato de se descobrir sendo traída pelo marido.
Não, MULHERES! Somos nós que estamos nos traindo quando não nos permitimos sentir e vivenciar nossa sensualidade e sexualidade. É preciso dizer que quando a sexualidade é abafada ela acaba adormecendo. Por outro lado, os homens continuam com sua necessidade de vivenciar o sexo, pois eles foram incentivados a isso.
Basta uma breve análise desse ‘sistema de controle da mulher’ para perceber que ele é responsável por nos conduzir a relacionamentos frustrantes e infelizes, nos quais nos mantemos vivenciando os papéis de mulheres esposas e mães. No mesmo momento em que muitos homens, insatisfeitos com a relação, muitas vezes experimentam a sua sexualidade fora do casamento, com a certeza de que suas esposas estão em casa ou no trabalho, sob controle.
E se eu puder, nesta data tão importante, dar um conselho a todas as mulheres, eu digo: Soltem-se! Se conectem consigo mesmas! Vivenciem a sua sexualidade!
Sintam o seu corpo, que é regido pelos ciclos menstruais, pelas fases da lua e outros movimentos do universo. Temos nos afastado demais da nossa natureza e do significado real de ser uma fêmea.
Desde muito cedo, ainda adolescentes as meninas já começam a tomar pílula anticoncepcional, colocam DIU e afastam-se da sua natureza, não chegam a entrar em contato com a sua menstruação e os movimentos naturais do seu organismo. Estamos sempre tentando controlar o Feminino, seja por meio dos hormônios, ou pelos padrões e crenças pré-concebidas, os tais comportamentos socialmente aceitos.
Devemos a nós mesmas, às nossas filhas e netas, um resgate desse Feminino que recebemos como energia vital de nossas linhagens ancestrais.
E como dica no dia de hoje, sugiro que sigam influenciadoras digitais que falam abertamente sobre como viver a sexualidade e explorar a sensualidade feminina. Um verdadeiro estímulo ao empoderamento feminino. Outra dica boa é a visita a um sex shop – você vai descobrir um mundo incrível. Compre lingerie sexy, faça uma surpresa para o seu parceiro. Olhe-se, admire-se da sua beleza. Permita-se sentir plena, satisfeita e feliz.
Você vai se sentir FEMININA!
Um delicioso Dia da MULHER para você! E não se esqueça, você é a sua melhor amiga.
P.S.: Claro que muitas mulheres já encontraram esse caminho. Tomara que muitas outras sigam vocês!
Autor
Vera G. Von Sothen